Windows Phone: celular da Microsoft não vingou (MrIncredible/Getty Images)
Repórter
Publicado em 15 de junho de 2025 às 08h48.
Era 2010 quando a Microsoft decidiu desafiar o domínio do mercado de smartphones com o lançamento do Windows Phone.
Já consolidada como a principal fornecedora de sistemas operacionais para computadores, com o Windows, a empresa se aventurou na indústria móvel com um novo sistema operacional, projetado para competir diretamente com o iPhone da Apple e o Android do Google, que já estavam estabelecidos como as plataformas líderes.
Ao lançar o Windows Phone 7 em 2010, a Microsoft tentava entrar em um mercado altamente competitivo, mas, embora tivesse vastos recursos e expertise, não conseguiu superar as barreiras impostas pela concorrência.
Na época, o iPhone já era um grande sucesso desde seu lançamento em 2007, e o Android havia conquistado um espaço significativo no mercado desde 2008, com empresas como Samsung, HTC e LG adotando o sistema operacional.
Quando a Microsoft finalmente entrou no jogo com o Windows Phone, já era tarde demais. O sistema operacional foi lançado em um momento em que iOS e Android já haviam estabelecido uma base de usuários leal, consolidado um grande ecossistema de aplicativos e se tornado a principal escolha de desenvolvedores e consumidores. A Microsoft, por sua vez, demorou a reagir e não conseguiu captar uma fatia significativa do mercado, o que resultou na morte do Windows Phone apenas seis anos depois, em 2016.
Quando o Windows Phone finalmente chegou, o mercado já estava saturado, e a Microsoft perdeu o timing para competir de igual para igual. O sistema chegou tarde demais para capturar a atenção de consumidores que já haviam se comprometido com outras plataformas.
Em termos financeiros, o Windows Phone nunca alcançou os números esperados. Durante o seu auge, a Microsoft teve uma receita relativamente modesta com a plataforma. De acordo com várias fontes de mercado, a empresa conseguiu gerar um faturamento de apenas US$ 613 milhões com o Windows Phone e Windows Mobile no ano fiscal de 2011, um valor que incluía outros projetos menores, como o Zune e os primeiros tablets Surface (antes da evolução dos Surface Pro modernos).
Quando isolado, o Windows Phone e o Windows Mobile geraram uma receita bem abaixo do esperado, especialmente quando comparado com os iPhones da Apple e os dispositivos Android, que estavam faturando bilhões de dólares anualmente. Em um mercado onde os gigantes Apple e Google estavam dominando, a Microsoft não conseguiu competir com os iPhone e dispositivos Android.
Mesmo durante seu pico, o Windows Phone nunca conseguiu alcançar mais do que 1% de participação de mercado global até 2016. Quando o Windows Phone 8 foi lançado, em 2012, o sistema teve um pequeno aumento na participação de mercado, mas mesmo isso não foi suficiente para alterar sua trajetória. Em 2012, o Windows Phone conquistou 3% do mercado global de smartphones, com a Nokia liderando as vendas de dispositivos, especialmente com o Lumia 800. Na Europa, o sistema alcançou uma participação de mercado de mais de 10% em alguns países, mas em mercados-chave como EUA, a Microsoft não conseguiu mais do que 4% de participação, uma fração do que a Apple e o Google estavam conquistando.
Uma das principais razões para o fracasso do Windows Phone, segundo especialistas, foi a falta de um ecossistema de aplicativos robusto. Quando o sistema foi lançado, ele tinha apenas cerca de dois mil aplicativos disponíveis, em comparação com as centenas de milhares de iOS e Android. Faltavam aplicativos populares como Instagram, YouTube e muitos jogos, o que dificultava a adesão de novos usuários. Enquanto iOS e Android ofereciam uma ampla gama de opções de apps, o Windows Phone não conseguia competir nesse ponto essencial, resultando em uma experiência de usuário aquém das expectativas.
Além disso, os desenvolvedores hesitaram em investir na plataforma. A base de usuários pequena e o retorno financeiro incerto fizeram com que muitos desenvolvedores optassem por focar nas plataformas que já tinham um público maior e mais engajado, deixando o Windows Phone com um número limitado de aplicativos. Isso criou um ciclo vicioso: a falta de apps levava a uma base de usuários reduzida, o que, por sua vez, desmotivava ainda mais os desenvolvedores.
Outro fator importante para o fracasso do Windows Phone foi a falta de uma estratégia consistente por parte da Microsoft. O sistema operacional passou por várias mudanças ao longo dos anos, com a transição do Windows Phone 7 para o Windows Phone 8, e depois para o Windows 10 Mobile. Isso fez com que os usuários se sentissem frustrados, já que cada nova versão do sistema operacional não era compatível com os dispositivos antigos. Para os consumidores, isso representava um risco, já que eles não podiam ter certeza de que os dispositivos comprados estariam atualizados a longo prazo.
Essa falta de consistência e a falta de um plano de longo prazo prejudicaram a plataforma. Quando a Microsoft finalmente teve uma abordagem mais integrada e lançou o Windows 10 Mobile, a plataforma já estava tão atrás que não havia mais espaço para conquistar novos usuários.
Apesar de sua potente infraestrutura e orçamento de marketing, a Microsoft não conseguiu gerar o entusiasmo necessário para o Windows Phone. A empresa não soube diferenciar adequadamente o produto da Apple e Google, e o marketing da Microsoft foi frequentemente inconsistente. Sem um posicionamento claro, os consumidores não conseguiam ver uma razão clara para escolher o Windows Phone em vez do iPhone ou de um dispositivo Android, apontam analistas do mercado.
Além disso, as operadoras de telefonia móvel, que eram fundamentais para a distribuição de smartphones, não estavam dispostas a apoiar o Windows Phone. As operadoras já estavam investindo pesadamente em iPhones e dispositivos Android, e não viam o Windows Phone como uma prioridade. Isso significava que, em muitos casos, os dispositivos com o Windows Phone eram relegados a um papel secundário nas lojas das operadoras, o que dificultava ainda mais sua distribuição e vendas.
A aquisição da Nokia pela Microsoft em 2014 foi vista como uma tentativa de solucionar a falta de diversidade de dispositivos. A Nokia se tornou o fabricante quase exclusivo de smartphones com o Windows Phone, mas essa dependência de uma única fabricante prejudicou a plataforma. A Microsoft não conseguiu atrair outros fabricantes para a plataforma, o que limitou ainda mais a disponibilidade de dispositivos.
O foco exclusivo em Lumia e as questões de qualidade de hardware e design dos dispositivos também não ajudou a melhorar a percepção do Windows Phone entre os consumidores. Os dispositivos Lumia enfrentaram problemas técnicos e não conseguiram competir com a inovação constante que Apple e Android estavam trazendo para o mercado.
Para Bill Gates, a "morte do Windows Phone" foi um de seus maiores fracassos. Em suas declarações sobre o fracasso da plataforma, Gates não hesitou em assumir sua responsabilidade pessoal, mas também apontou uma série de fatores externos que contribuíram para a queda do sistema. "A Microsoft teria sido mais bem-sucedida no mercado de dispositivos móveis, caso não tivesse sido 'distraída' por outros problemas", disse.
Um dos principais obstáculos mencionados por Gates foi o processo antitruste movido pelo governo dos Estados Unidos contra a Microsoft, que, para ele, se tornou uma grande distração e comprometeu a capacidade da empresa de se concentrar no desenvolvimento de um sistema operacional móvel competitivo. "Não há dúvida de que o processo antitruste foi ruim para a Microsoft e estaríamos mais focados em criar o sistema operacional para celulares. Então, ao invés de usar Android hoje, você estaria usando Windows Mobile", disse Gates.
Além disso, Gates reconheceu que, em retrospectiva, tanto ele quanto sua equipe estavam "muito distraídos" e "não estavam tão focados no mercado móvel quanto deveriam estar". "Ah, estávamos tão perto. Eu estava apenas muito distraído. Estraguei isso por causa da distração", afirmou. A falta de urgência e o fato de não ter reconhecido a importância estratégica do mercado de smartphones precocemente foram, para ele, contribuintes diretos para o fracasso do Windows Phone.
Gates também chamou a perda do mercado móvel para o Android de "o maior erro" de sua carreira. "Perder o mercado móvel para o Android foi o maior erro que cometi em algo que estava claramente dentro da nossa capacidade", disse Gates. Ele explicou que a Microsoft estava "apenas três meses atrasada" para fechar um acordo crítico com a Motorola, o que poderia ter dado à empresa uma vantagem estratégica no mercado de smartphones. Além disso, ele observou que a Microsoft não alocou os melhores profissionais para o desenvolvimento do Windows Phone, o que também afetou negativamente o sucesso da plataforma.
Se a Microsoft tivesse se saído bem no mercado móvel, Gates acredita que a empresa teria se tornado a dominante no setor. "Se tivéssemos acertado naquele ponto, seríamos a empresa líder, mas bem, o que podemos fazer?".